Estudo Norte-Americano reforça impacto da Educação Física e da Atividade Física

Educating the Student  Body- Taking Physical Activity and Physical Education to School”

Por João Costa

Recentemente foi tornado público nos EUA um novo estudo que reforça o valor da Educação Física e da Atividade Física no desenvolvimento das crianças e jovens.

O trabalho Educating the Student  Body: Taking Physical Activity and Physical Education to School”  efetuado para o Comité para a Educação Física (EF) e Atividade Física (AF) no Ambiente Escolar, do Conselho de Nutrição – Instituto de Medicina das Academias Nacionais (EUA) integra uma revisão de estudos sobre os efeitos da EF e da AF nos alunos,

A versão publicada é dada como provisória assumindo-se no entanto que o seu conteúdo não sofrerá alterações de fundo, razão pela qual terá sido oficialmente divulgado. A instituição responsável pelo estudo é altamente prestigiada, e conselheira nacional do governo federal norte-americano, integrando um corpo multidisciplinar de cientistas com preocupações concretas sobre estas áreas científico-profissionais. Por si só, este facto introduz uma necessária reflexão sobre a necessidade de articulação efetiva e operacional entre duas áreas tão próximas que no contexto Português se verifica fundamentalmente ao nível da convergência entre os nossos profissionais e os da Medicina acerca da importância da EF e da AF e dos efeitos benéficos na sociedade. Dá-se então a conhecer algumas conclusões e questões levantadas.

O enquadramento do estudo é justificado com:

Reforço da importância da acumulação de 60 minutos diários (ou pelo menos 3xsemana) de atividades físicas com intensidade moderada a vigorosa (MVPA no acrónimo internacional) e da reduzida percentagem de jovens e crianças que tem oportunidade de cumprir estas recomendações, registando-se ainda uma diminuição gradual desse tempo nos últimos 30-40 anos;

Reforço da falta de oportunidade em especial entre populações de minorias étnicas e raciais, e de estratos socioeconómicos mais baixos, com diminuição de oportunidades associada ainda ao aumento da idade e à população feminina;

Enaltecimento da escola como o espaço estratégico e “equalizador social” por excelência para a promoção de comportamentos e estilos de vida saudáveis e ativos, por: a) incluir a larga maioria dos jovens; e b) do tempo que ali passam, não só dia a dia, mas ao longo dos anos e ciclos de escolaridade. No entanto, também se assume que a resolução dos problemas identificados não passa só pela escola, sendo necessário intervir noutros contextos sociais;

Evidências robustas e constantes dos efeitos da AF na saúde, na cognição (com ênfase para a performance e sucesso escolar), e no desenvolvimento geral (afetivo, cognitivo, motor, social), em especial na fase infanto-juvenil;

Falta de igualdade de condições para a consecução dos objetivos programáticos, acentuando-se as dificuldades inerentes devido a pressões políticas educativas promotoras de testes nacionais estandardizados que conduzem à redução da carga horária da EF, e outras disciplinas tradicionalmente menos valorizadas (e.g. artes) e até dos tempos de recreio, para aumento do tempo em disciplinas avaliadas nacionalmente (à volta de 44% de administradores escolares norte-americanos assumem este corte);

Valor dos currículos de EF e dos professores especialistas de EF para a promoção e no acompanhamento/supervisão de finalidades e experiências ajustadas ao desenvolvimento infanto-juvenil que sustentam a aquisição de habilidades e crenças fundamentais à sustentabilidade de estilos de vida saudáveis e ativos;

– Reconhecimento de que mesmo com excelentes práticas de ensino e currículos de eF altamente focados na componente da AF, em cada sessão os tempos de MVPA variam entre 10 e 20 minutos, devido às caraterísticas específicas de cada matéria que nem sempre dependem de esforços continuamente intensos e da necessidade de promover outros conhecimentos de cariz teórico ou cultural, ou seja, a EF apesar de ser uma área de excelência para a promoção da AF, não se orienta exclusivamente para essa finalidade denotando valências de ecletismo e multilateralidade tal como preconizado nos Programas Nacionais (Portugueses) de EF.

As suas principais recomendações, às quais se acrescentam algumas reflexões para a realidade Portuguesa são:

Abordagem centrada na (totalidade da) Escola em que se advoga que mais de 50% dos 60 minutos diários acumulados de MVPA deve ser nesse contexto, dedicando à EF uma média diária de 30 minutos no 1º e 2º ciclo, e 45 minutos no 3º ciclo e secundário, equivalendo respetivamente a um mínimo e 150 e 225 minutos semanais (salvaguardando a valorização da distribuição semanal em detrimento da sua concentração diária). Associa-se também, mas não só, a promoção de atividades de complemento curricular, onde se insere por excelência o Desporto Escolar, para ampliar a acumulação de minutos de MVPA;

Consideração da EF/AF em todas as decisões políticas sobre a educação, a todos os níveis desde o governo às freguesias e até associações de pais;

Desenho da EF como disciplina nuclear pelo Ministério da Educação, devido ao seu caráter fundamental de promoção ao longo da vida da saúde e aprendizagem. Se do ponto de vista legal esta situação é bem patente no contexto Português com legislação da EF em todos os níveis de escolaridade, a única com este enquadramento a par da Língua Portuguesa, a realidade política tem sido bastante diferente com falta de fiscalização e discriminação negativa em vários aspetos;

Monitorização da EF e das oportunidades de AF na escola através das instituições governativas e fiscais, criando bases de dados e relatórios detalhados sobre a aplicação destes aspetos responsabilizando quem de direito para aumentar a qualidade dos programas;

Assegurar Estágios de Formação de Professores na formação inicial, sabendo-se que o estágio pedagógico para certificação profissional está cada vez mais ameaçado, contrapondo com as suas caraterísticas únicas e excecionais na formação de professores realizada em Portugal (a generalidade das restantes áreas disciplinares tem um contacto com a escola, e concretamente com o ensino, muito reduzido no tempo e na autonomia proporcionada sem qualquer comparação com o desenvolvido pelos professores estagiários de EF);

Proporcionar um Desenvolvimento Profissional efetivo, regular, e de qualidade facilitando os professores com atribuição de tempo letivo para esta importante atividade, e financiando e regulando as entidades e instituições de formação nas atividades proporcionadas aos profissionais;

Assegurar equidade no acesso à EF e AF, minimizando efeitos de variáveis sociais com impactos negativos na aquisição das experiências e aprendizagens proporcionadas por essas áreas, focando estrategicamente a escola como espaço fundamental.

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